Poucos conhecem o País Basco. Alguns sabem (ou tem uma ideia) que por lá só jogam atletas nascidos na região independente, famosa pelos conflitos com o governo espanhol e pela existência da célula terrorista autointitulada ETA. Daquela região tão peculiar do planeta, com uma língua que ninguém consegue explicar de onde vem, falada e só entendida ali, com uma organização política autônoma dentro do território do Reino de Espanha, de lá veio um dos goleiro mais impressionantes de todos os tempos: Antoni Zubizarreta Urreta. Conhecido como “O Paredão Basco”, Zubizarreta foi o jogador que mais partidas disputou em La Liga Espanhola, e é considerado o melhor goleiro espanhol de todos os tempos. Começou sua carreira no País Basco, em clubes universitários, chegou ao Athetic Bilbao e consagrou-se no Barcelona, onde foi multicampeão. Estreou na Seleção Espanhola em 1985 contra a Finlândia. Disputou quatro Copas (de 1986 a 1998). E como todo grande goleiro, tomou gols bisonhos. Em 1992, na final do Mundial de Clubes, Zubizarreta sofreria um gol ontológico do brasileiro Raí, jogador do São Paulo Futebol Clube, numa linda cobrança de falta sem chance alguma para o goleiro basco. Ficou estaqueado no chão. Encerrou sua participação na seleção espanhola na Copa de 1998, ocasião em que protagonizou um auto-gol contra a Nigéria, quando, após jogada de linha de fundo, o atacante nigeriano chutou meio sem jeito, e Zubizarreta empurrou para dentro. A Fifa considerou gol contra.
A Copa do Mundo de 1990 aconteceu na Itália. Outra escolha de sede que passou por questões políticas (evitou-se a União Soviética, dissolvida com a Queda do Muro de Berlim, em 1989). O torneio foi utilizado em disputas internas dentro do país. Esta também é considera a pior Copa de todos os tempos, e isto por três motivos imbricados: times retrancados, futebol ruim e baixa média de gols. Dentre as favoritas, a Itália e Inglaterra sucumbiram na semifinal, e a eterna promessa Bélgica foi eliminada bem antes, nas oitavas. A participação do Brasil começou pelo desastre da assunção de Ricardo Teixeira à CBF, e a continuidade de esquemas de corrupção já existentes na Fifa, onde comandava João Havelange, seu sogro. Com a contratação de Sebastião Lazaroni como técnico, inciava-se a chamada “Era Dunga”, a era da retranca. Sobre os goleiros, a Copa reservava algumas estrelas, digo, surpresas. O excelente Conejo da Costa Rica levaria sua seleção até as oitavas de final, com defesas consideradas épicas. Já na partida de abertura, o bom goleiro N’Kono de Camarões ajudou sua seleção a vencer a Argentina de Pumpido. O goleiro portenho quebrou a perna algumas partidas depois, e Goycochea então ganharia a posição. Ele defendeu inúmeros pênaltis e garantiu que a fraca Argentina chegasse à decisão do campeonato. Goycochea, contudo, não conseguiu defender o pênalti mais importante de sua vida, aquele cobrado pelo lateral alemão e que deu o terceiro título mundial à Alemanha, feito até então só do Brasil.
Após o ótimo desempenho nos Campeonatos Brasileiros de 1987/88 e de sua participação na Olimpíada da Coreia do Sul, em 1988, Cláudio Taffarel assumiu a titularidade da Seleção Brasileira. Na reserva estavam Acácio e Zé Carlos. Inicialmente chamado de Cláudio, o atleta modificou seu nome para Taffarel, virando, anos depois, bordão de um conhecido narrador de tevê: “Vai que é tua, Taffarel”. O goleiro de Santa Rosa/RS ficaria no gol brasileiro por três Copas seguidas, conquistando o título mundial em 1994. Não se pode atribuir a ele a péssima campanha do Brasil na Itália nem o desastre da final de 98 contra a França. Sucessor direto do multicampeão mundial Gylmar, seu nome virou símbolo de Seleção Brasileira, até porque no clube que o formou – o Sport Club Internacional – ele não ganhou nenhum título. O Inter foi eliminado na semifinal da Libertadores de 1989 nos pênaltis e possui em seu currículo um frango no Campeonato Brasileiro de 1987, engolido após chute despretensioso da linha de fundo do atacante do time rival, o famigerado Jorge Veras, do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Tal gol é considerado o ponto mais baixo da carreira do arqueiro colorado. Longe fica o gol que ele tomou de Claudio Caniggia na Copa de 90 e os três da final de 98. O frango tomado após o chute de Jorge Veras foi muito parecido com o fiasco histórico de Zubizarreta em plena Copa 98.
Eis o absurdo. A vida do goleiro é feita de glórias (Zubizarreta, Taffarel, Goycochea) e, quando menos se espera, nada. Zubizarreta anotou gol contra no Mundial de 98; Taffarel defendeu muito bem na fase de grupos da Copa 90, mas não conseguiu interceptar o chute de Caniggia nas oitavas; e Goycochea carregou a Argentina até a final em Roma, mas não conseguiu segurar o pênalti que daria chance dos argentinos de sonhar com o terceiro título mundial.
Goleiros geniais, goleiros bisonhos. Acostume-se. Está aí a Copa do Qatar que não me deixa mentir.
Dezembro de 2022
Belo texto! Lembro desse nome na boca dos narradores, e a gente repetindo a cada defesa: Zubizarreta. Lembro também do clima pré-copa, a expectativa da convocação do Taffarel, (O Roberto Brauner na Gaúcha falando em “Taffarel é Pedra 90”) depois a frustração naquele gol do Caniggia