A Copa do Mundo de 2002 – O Oriente de Marcos

Na página do pequeno Município de Oriente, do interior do Estado de São Paulo, há uma explicação sobre a origem do nome do município. Conta-se que a Companhia Paulista de Estrada de Ferro avançou naquela direção, enumerando os povoados por letras. Coube a letra O para Oriente, daí o nome. Em Oriente nasceu Marcos Roberto Silveira Reis, ou Marcos, goleiro idolatrado pelos torcedores da Sociedade Esportiva Palmeiras, time em que o jogador foi multicampeão e ficou conhecido como “São Marcos”, por suas defesas nas finais do Paulistão, do Brasileiro e da Copa Libertadores. O arqueiro jogou o Mundial de 2002, disputado no extremo Oriente do planeta. Lá, suas luvas fizeram importantes defesas contra Bélgica, Turquia e Alemanha. Conheci três ou quatro Marcos Roberto na vida, além de meu irmão. “Polaco” nunca jogou no gol, e ninguém chama ele de santo lá em casa.

Na Copa do Mundo da Coreia e do Japão – primeira disputada em dois países –, o Brasil encontrou seu melhor futebol, jogou com vontade, teve a união do grupo, dois craques extraordinários (Ronaldo e Rivaldo) e venceu seu quinto título no Campeonato Mundial. A Estrela do Oriente dos jogadores da Seleção Brasileira brilhou no esquema tático 3-5-2, e o time, mesmo defensivo, venceu a Copa na base da superação. Começou com a lesão do volante Emerson, o capitão do time então, fato que aconteceu antes do primeiro jogo e desestabilizou a equipe. Ele deslocou o ombro num treino, jogando de goleiro. Os dois jogos tensos contra a Turquia (o segundo, já na semifinal) foram vencidos no sufoco. Contra a Bélgica, ainda na primeira fase, saímos perdendo. No jogo contra a Inglaterra, nas quartas, um gol genial deu a vitória. Na partida final contra a poderosa Alemanha, a bela fase de Rivaldo e os dois gols de Ronaldo Fenômeno foram decisivos para vencer o gigante Oliver Khan, um dos melhores goleiros alemães de todos os tempos. A decisão do título foi uma verdadeira disputa de xadrez… até a falha de Khan. E esta partida final de 2002 foi somente a primeira vez em que o tetracampeão Brasil cruzava com a tricampeã Alemanha em Copa do Mundo, depois de 16 edições do torneio mundial de seleções. Ronaldo se consagrou, Rivaldo foi o craque, ainda que Oliver Khan tenha sido escolhido melhor goleiro e melhor jogador da Copa pela Fifa (decisão precipitada na véspera, porque o guarda-metas falhou na final). Era a primeira vez que um goleiro era escolhido craque do Mundial. Nada capaz de superar a magia de Rivaldo, com gols e assistências perfeitas, erguendo o jogador como um dos maiores camisa 10 da Seleção Brasileira de todos os tempos, ao lado de Pelé, Rivelino e Zico.

Além de Marcos do Palmeiras, o Brasil levou para a Copa os goleiros Dida (Cruzeiro) e Rogério Ceni (São Paulo). O nível técnico dos goleiros era tão alto que ficou difícil escolher entre os três, e coube a Felipão, o técnico, apostar no goleiro que mais conhecida e confiava. Ele optou por Marcos, multicampeão com Felipão no Palmeiras e, como vimos, a estrela e o evangelho de “São Marcos” prevaleceram nos momentos de maior tensão na Copa da Coreia e do Japão. Quando exigido – e ele foi – não decepcionou a torcida. Na final, pelo menos duas defesas mudaram o rumo da partida, e é nestes momentos que os grandes goleiros aparecem.

Numa Copa do Mundo em que o Brasil produziu uma geração de craques, vencemos com a segurança de uma defesa com zagueiros firmes e dois laterais de primeiro mundo, sendo um deles, Cafu, o capitão, e o outro ninguém menos que Roberto Carlos No meio, o volante Kleberson teve atuação ofensivo que surpreendeu o adversário, principalmente a Alemanha na final. A precisão dos chutes e passes de Rivaldo, o craque da Copa, foram garantidas, lá atrás, pela segurança de Marcos, aliás com defesas importantes na final. Numa competição em que a Seleção ainda contou com a magia de Ronaldinho Gaúcho em seu gol mágico contra a Inglaterra, ocasião em que venceu o arqueiro Seaman numa cobrança de falta que desconcertou o goleiro inglês. E Ronaldo Fenômeno fez até gol de bico para vencer a forte defesa turca na semifinal. Na decisão do título, demos show contra a Alemanha. Eis uma Copa do Mundo em que o time brasileiro mostrou ao mundo como se ganha um título. E foi a última vez.

Marcos, nosso goleiro, fez milagres. Oriente, sua cidade de nascimento o tem como a maior personalidade do município. Os palmeirenses o idolatram até hoje. Sua exibição nos jogos da Copa da Coreia e do Japão são dignas dos atletas vencedores. Em 2002, o Brasil se encontrou com o bom futebol pela última vez numa Copa do Mundo. E Marcos Roberto se consagrou. Ou “São Marcos”, como preferir. Eu prefiro acreditar que não há santos no futebol.

 Dezembro de 2022

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